Poesias

TORNAR-SE GRANDE

Anda o homem
de levante a poente
o sol medido
adubando o sonho
com a cal dos dias.

Anda o homem
sob a noite apunhalado
a contar os abandonos
assolando o corpo
cansado de sua fome.

E não há Deus que o sustente
nos brios, na dor, no fogo
liberte de sua boca a palavra
a luz amadurando na sombra
de golpes revingados na espada.

Onde anda o homem
com seu quinhão de penúria?
Que outra coisa fazer senão
estirar-se ao sol, réptil mutilado,
e de suas gosmas tornar-se grande?

Que outra coisa fazer senão
sob tambores engolir a dor, levantar-se
e, dardo de luz, ferir o mal-de-raiz,
purgar a palavra num rio de lágrimas,
de suas sombras voar o bicho-homem da liberdade,

repartir confiante a vida que se conquista?
O desejo possuído nos porões do sonho
se enrijece nos músculos, soa trombetas
finca bandeiras, acorda na Casa da Alma
o anjo mais ousado, o povo em marcha a semear

os abraços, armas, o sangue compartilhado
as heranças, os sucedâneos bens abolidos
a terra redividida com mil olhos acesos
na porfia, e sempre, por onde anda o homem
deixa semente, a semente que um dia há de
tornar-se grande.


21/06/2011

 

 

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